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E-books enfrentam resistência de autores


Publicado no Jornal do Commercio em 13.05.2009
Apesar do crescimento da oferta de livros virtuais na web, mercado ainda encara desconfiança de detentores de direitos autorais quanto à legalidade do formato e remuneração pelas obras

Hillel Italie

Agência Estado

Cada vez mais há livros que podem ser lidos em meios eletrônicos, mas muitas obras continuam disponíveis apenas no papel. Entre os mais recentes debutantes no mundo da literatura eletrônica está O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien, que saiu nesse formato depois de muitos anos de negociações.

“Os detentores dos direitos autorais queriam ter certeza absoluta de que os e-books não eram algo efêmero”, disse David Brawn, diretor de operações de publicações da HarperCollins na Grã-Bretanha, que anunciou na semana passada que o trabalho do autor britânico, entre os mais populares do mundo, estará disponível para download.

“Finalmente conseguimos convencer os detentores dos direitos autorais de Tolkien que o e-book é um formato legal e difundido.” A chegada de Tolkien ao mundo dos livros eletrônicos preenche uma lacuna e, sendo o e-book o setor que cresce mais rápido (e, virtualmente o único) nesse mercado, outros autores e seus detentores de direitos autorais começam a aderir a ele.

Tom Clancy e Danielle Steel, que resistiam ao formato, permitiram que seus livros sejam digitalizados e há relatos de que John Grisham tomará a mesma atitude.

A Grove/Atlantic Inc., que publica William Burroughs, Samuel Beckett e Malcolm X, espera que muitos de seus antigos títulos se tornem disponíveis no formato eletrônico. “A resistência diminuído dia a dia”, diz o editor associado da Grove, Eric Price.

Mas ainda se pode fazer uma coleção brilhante com os livros que se mantêm offline. Eles incluem a série Harry Potter e outros como O apanhador nos campos de centeio e Ardil 22, Lolita e O Sol é para todos, Atlas Shrugged e Things fall apart, Vida sem rumo e Fahrenheit 451.

Nenhum livro de autores vivos, como Thomas Pynchon, Guenter Grass e Cynthia Ozick estão disponíveis para download. Autores já falecidos como Studs Terkel, Roberto Bolano e Saul Bellow também não têm suas obras disponíveis em formato eletrônico. E apenas alguns, ou poucos, dos livros de Paul Bowles, Hunter S. Thompson e James Baldwin podem ser lidos numa tela.

As razões são legais, financeiras, técnicas e filosóficas. O autor ou os detentores dos direitos autorais simplesmente se recusam a permitir a comercialização nesse formato, como J. K.

E não espere ver Um bonde chamado desejo ou qualquer outro livro de Tennessee Williams em um leitor eletrônico. “Neste momento, o detentor dos direitos autorais do autor é totalmente contra qualquer licenciamento para o meio eletrônico”, disse o agente literário Georges Borchardt.

Em alguns casos, o livro não é adequado ao formato. Como a tecnologia tem capacidade limitada para suportar ilustrações, papel – mas papel reciclado – foi necessário para a leitura do livro de Al Gore Uma verdade inconveniente, a obra que acompanha o documentário vencedor de um Oscar.

A editora Rodale Books espera lançar o próximo livro de Gore, Nossa escolha, também na versão eletrônica quando o livro for lançado no fim deste ano.

O autor, ou seu representante, quer mais dinheiro. Agentes reclamam que o percentual de royalties pagos para e-books, geralmente em 25% da receita bruta, são muito baixos e deveriam ser duplicados, afirmando que textos digitais custam quase nada para serem produzidos e distribuídos.

“Da minha perspectiva, isso é claramente injusto e vai ser um tiro pela culatra nos editores que insistirem nisso”, diz o executivo-chefe da agência literária Curtis Brown Ltda. Timothy Knowlton.

Segundo Knowlton, a HarperCollins está entre as empresas que pagam 25%. Ana Maria Allessi, vice-presidente de editora da HarperMedia, o braço multimídia do grupo HarperCollins, não confirma nem nega o percentual, mas disse que ele é o mesmo oferecido desde 2001.

O autor, ou os detentores dos direitos autorais, aceitam o percentual oferecido pelo e-book, mas ainda não estão convencidos de que o mercado é grande o suficiente para justificar o custo e o risco da digitalização do texto. Arthur Klebanoff, da RosettaBooks, uma editora de e-books, lembra que houve várias tentativas para conseguir os direitos de O Sol é para todos e outros velhos clássicos, mas houve ceticismo no que diz respeito às vendas.

A proibição é especialmente forte para livros publicados antes da era Kindle/Sony Reader. Infinite jest, de David Foster Wallace, um cult publicado em 1996 pela Little, Brown and Company, deve finalmente sair como e-book. A Grove/Atlantic espera ter uma versão eletrônica para Naked Lunch – mistério e paixões, de Burroughs, publicado em papel em 1959, pronta para o aniversário de 50 anos da obra.

Algumas vezes, descobrir se há permissão para que um livro seja publicado como e-book é um processo complicado. Vários livros de Jack Kerouac podem ser adquiridos no formato eletrônico, entre eles Dharma Bums, Wake Up e o manuscrito original de On the road, mas não a versão editada de On the road, que é conhecida por milhões de pessoas.

Mas os autores também podem ser os últimos a saber. Erica Jong disse não ter “problemas com e-books” e ficou surpresa ao saber que seu Medo de voar não estava

disponível no formato eletrônico.


O historiador Douglas Brinkley considera-se um homem de papel e tinta e disse que esperava que seu trabalho, que inclui best sellers como The great deluge e Tour of duty não seja vendido eletronicamente. Mas é. “É por isso que não penso sobre o assunto”, disse ele.

   
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